quarta-feira, setembro 20, 2017

Caro Jorge
 
Não nos conhecemos (acho eu), mas vou trata-lo por Jorge. Peço desculpa por responder somente agora. Apesar de ter apagado o seu primeiro comentário, sei o que comentou pois o Blogger guarda isso tudo. Nada lhe escapa, malgré nous!... É pois a esse comentário que vou responder, apaziguada que está a cólera da guilda de São Lucas, mais preocupada com o preço dos pincéis de marta e do lápis-lazúli do que com o século XXI. Permita-me que discorde de si quanto aos rostos em Vermeer. Não me parece sequer que o Vermeer estivesse preocupado com as expressões faciais, até porque nos seus quadros a temática não permite variar as expressões faciais. Vejamos que os seus coetâneos também não abusam da expressão facial, à excepção das cenas de taberna, talvez. Acho que para o Vermeer a pessoa era só um veículo para um acto, um gesto, esse sim repleto de pontos de interesse, de pormenor e que ele escalpelizava com todo o afinco. Quanto à rapariga do brinco de pérola, ela parece-me apanhada como numa fotografia. Sabe quando somos chamados, olhamos para trás e alguém dispara a máquina? Assim mesmo. Há um outro quadro, para além deste da Rapariga com o Brinco de Pérola, onde o rosto é de facto o rosto de alguém em particular. Com ou sem expressão, não sei (não sei se no século XVII as expressões faciais eram assim muito variadas). Trata-se de Girl With a Red Hat (aqui)
 
Desculpe discordar de si.
Mas volte sempre que desejar!




 

6 Comments:

Blogger Jorge Filomeno Andrade Gomes said...

Cara Beluga. Agradeço-lhe a resposta. Respondo-lhe de forma espontânea e sem muita reflexão. O Jorge adquiriu o mau hábito de querer ter sempre razão e por isto convém que vá fazer outra coisa. Concordo consigo quando diz que que para o género de pintura que o Vermeer fez , interior doméstico, a expressão é pouco importante. O gesto e a postura dizem o que a expressão podia dizer. Um gesto rigoroso e significativo num ambiente etéreo é uma boa parte do segredo de Vermeer. Muito Proustiano excepto talvez na dimensão. Há muito boa arte para a qual a ritualização do gesto é essencial.
Mas tenho algumas dúvidas quanto a qualidade das expressões nos dois retratos que mencionou, o do brinco de pérola e o do chapéu vermelho. Usa para o brinco de pérola uma expressão que eu acho perfeitamente adequada: bem apanhada. Como conhece bem a nossa língua e usa-a com mestria sabe que quando usamos esta expressão queremos dizer mais, apanhada com alguma manha do que apanhada com ciência certa. Vou aproveitar o meu ano sabático que agora começa para copiar um retrato do Vermeer e um do Rembrant ou do Rubens para ver se chego a uma conclusão.
Agradeço-lhe que tenha voltado a escrever. Há poucos blogs sobre arte tão estimulantes como o seu . Au revoir.

21/9/17 1:44 da manhã  
Blogger Jorge Filomeno Andrade Gomes said...

Pronto!!Voltei a comentar com a minha conta google. Burro velho...😊

21/9/17 1:50 da manhã  
Blogger Belogue said...

Caro Jorge (Sr.)

Olá boa noite, como está? Não tem de agradecer a resposta. Quando fala em "manha" relativamente à Rapariga do Brinco de Pérola, está a pensar que esta vem da retratada ou do pintor? De qualquer forma, não consigo ver manha naquele retrato, naquela expressão. Parece-me muito cândida, não sei... Talvez eu veja nele o que desejo ver. Quanto à Rapariga do Chapéu Vermelho já sei quem ela me parece: o Filipe IV do Velazquez. É o mesmo lábio dos Habsburgo, não é?
http://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/14.40.639/

Faz muito bem em passar um tempo com os clássicos: com o bluff que são os contemporâneos (generalizando...), só mesmos os clássicos salvam o dia. Os dias.

Quanto ao Belogue ser estimulante... não me faça corar que eu sou uma moça simples do campo: sibilo e tenho buço.

Até um destes dias

21/9/17 10:41 da tarde  
Blogger Jorge Filomeno Andrade Gomes said...

����������������Bom dia Beluga. Não imagina quanto me fez rir. Descreve-se a si mesma como Gala, a musa de Salvador Dali. Não é nada disto. Eu vejo-a retratada por Vermeer como a leiteira que não resiste ao pecadilho da gula :)
Parece-me que Velazquez merece o nosso silêncio. E quanto a estímulos não digo mais nada...
Vou continuar a ser seu leitor. Mas quando quiser comentar usarei um nick.
Não seja tão modesta. O retrato de musa no género clássico também lhe fica bem. Rubens para continuarmos na escola holandesa.
Até breve.
Jorge.



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22/9/17 7:29 da manhã  
Blogger Jorge Filomeno Andrade Gomes said...

Os pontinhos de interrogação correspondem ao emoticon que ri até as lágrimas.Por alguma razão não apareceram. E lá voltei eu a comentar com a minha conta google. Dhaaaaá...

22/9/17 7:35 da manhã  
Blogger Jorge Filomeno Andrade Gomes said...

É claro que quis dizer género com tema clássico. Rubens não faz concessões estilísticas mesmo para a Beluga. Jorge

22/9/17 12:25 da tarde  

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