quarta-feira, março 24, 2010

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Olá. Apetecia-me dizer qualquer coisa mais substancial.
Olá outra vez. Não consigo começar este post. O cursor pisca e não sei o que dizer. Volto amanhã.
Olá. Tanto “antes” como “depois” e ainda mais depois as pessoas acreditaram em demónios. Cá para nós, que ninguém nos leia, os demónios são uma criação teológica para substanciar e creditar a obra demiúrgica. Como alguém dizia no “Cinema Paraíso”: a minha infelicidade torna-se maior sobre pano de fundo da felicidade do outro. Deus é infinitamente bondoso e compassivo quando comparado com o diabo, embora não o fosse se por exemplo o comparássemos com Job (“ter uma paciência de Job”, diz-se). Apesar destes antes e depois não serem muito espaçados no tempo, nota-se uma linguagem comum e acima de tudo, um elemento comum. Depois do demónio com corpo de mulher, depois do demónio com corpo de personagem mitológica, surge o demónio com trompa de elefante. Tanto no antes, de 1480 como no depois de 1506, Santo António está a ser tentado por um grupo de demónios e apesar dos mesmos terem formas assustadoras entre o antropomórfico e o zoomórfico, um deles - que se repete nas duas situações – apresenta trompa de elefante, o que é raro embora não seja propriamente uma surpresa. A gravura de Schongauer ilustra através dos vários demónios, a grande variedade de proveniências demoníacas, bem como as suas contradições. Todos eles têm corpos informes, de difícil delimitação e noção entre princípio e fim, são leves embora em muitos deles não se note a presença de asas. Quando falamos de contradições na representação falamos das suas associações pouco óbvias como a forma de pássaro, os quadrúpedes, a forma de peixe, o humanóide. Cranach tomou como exemplo a representação feita por Schongaeur e acrescentou-lhe, para além daqueles seres híbridos, crustáceos e insectos. E tal como na gravura do primeiro autor, também em Cranach é quase impossível distinguir onde começa e onde acaba o corpo demoníaco, pois apenas discernimos uma massa infernal, mas não os elementos em separado. Para além disso o momento em que o santo é atacado – mais até do que tentado – ocorre no ar Cranach foi mais feliz nessa tentativa de levitação do que Schongauer, pois este estreita a paisagem e não deixa que o olho faça a contraposição. Cranach, que tinha desenvolvido o gosto pela representação da paisagem graças a Dürer, esteve menos interessado na geometria e simetria da obra do que o seu antecessor. Existe uma outra versão da tentação de Schongauer atribuída a Miguel Ângelo. Nestes dois últimos o demónio tem corpo de peixe, braços humanos e trompa de elefante, enquanto em Cranach o corpo parece humano e a trompa, novamente de elefante. Estas representações eram comuns nesta época, mas também o eram na arte oriental. Exemplos disso são os diabos chineses segundo Li Long-mien de quem não arranjei imagens. Parece que o Musée Guimet as tem, mas não disponibiliza on line. Bou inbestigáááár:

Schongauer
Tentação de Santo António (pormenor)
1480



Schongauer
Tentação de Santo António (pormenor)
1480


Miguel Ângelo (?)
Tentação de Santo António
1488
Kimbell Art Museum



Miguel Ângelo (?)
Tentação de Santo António (pormenor)
1488
Kimbell Art Museum


Lucas Cranach
The Temptation of Saint Anthony
1506
British Museum, Londres


Lucas Cranach
The Temptation of Saint Anthony (pormenor)
1506
British Museum, Londres

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

o trombinhas é quido

24/3/10 10:42 da manhã  
Blogger Belogue said...

Não me diga (escreva) coisas como "quido" ou "quiducho" ou "fofinho" que eu mando-me ao ar!

26/3/10 12:33 da manhã  

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